Lições de destruição criativa

É sabido que em Portugal tudo muda para ficar na mesma. No entanto, parece estar em curso um inédito processo de reconfiguração que pode mudar para sempre a paisagem política no nosso país. Já havia alguns sinais, mas poucos os levaram a sério. Em Junho de 2014, na sequência das eleições europeias e do desafio à liderança de António José Seguro, João Lopes escreveu um texto sobre «a morte anunciada do PS» que lido a esta distância parece brutalmente premonitório.

Na actual estratégia de «poder a todo o custo» dos socialistas, a «aliança de esquerdas» e a eleição de Ferro Rodrigues para Presidente da Assembleia da República podem parecer passos lógicos, mas constituem golpes nos alicerces do regime cujas consequências a longo prazo são difíceis de prever. Alain de Benoist invertia o princípio de Clausewitz para afirmar que «a política é a continuação da guerra por outros meios». E se até em guerra há regras (não) escritas e convenções reconhecidas, é absolutamente natural que os acordos de cavalheiros façam parte da praxis política. Numa altura em que se quebram com estrondo tradições que durante 40 anos equilibraram o sistema, é legítimo perguntar como será feita a partir de agora, por exemplo, a nomeação da administração da Caixa Geral de Depósitos ou a eleição dos juízes do Tribunal Constitucional, cuja composição até hoje reflectia os equilíbrios do chamado arco da governação. António Costa, na sua sede de poder, abriu a Caixa de Pandora e o cliché é irresistível: a partir de agora nada será como antes.

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