O 25 de Abril foi bom porque antes não havia internet

Lembro-me de uma entrevista de Rui Ramos à revista Ler em que o historiador dizia que crescer na Margem Sul do Tejo tinha sido uma espécie de vacina contra o comunismo. Comigo aconteceu algo semelhante. Na escola primária, entre outras coisas, a professora dizia que «antes do 25 de Abril não se podia arrotar na rua» e que um dia, quando era miúda, esteve quase a ser presa pela PIDE depois de ser «apanhada a colher fruta no quintal do vizinho». É dela que me tenho lembrado nestes dias, ao ver a quantidade de barbaridades que se têm dito a propósito do regime a que o 25 de Abril pôs fim.

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Na última semana, o presidente-executivo da Mozilla foi forçado a demitir-se por em 2008 ter doado mil dólares para apoiar a Proposition 8, uma petição contra a legalização do casamento gay no estado da Califórnia. Independentemente da posição de cada um relativamente ao tema, Brendan Eich não matou ninguém, não roubou ninguém, não cometeu qualquer ilegalidade. Limitou-se a contribuir para uma campanha que tinha como objectivo levar a discussão pública, e de forma democrática, um tema polémico.
Vivemos numa época em pode ser perigoso ter convicções. Orwell tinha razão.