Desconhece-se se os dirigentes do PS que apostam tudo na «maioria de esquerda» o fazem por simples mau-perder, por receio que eventuais entendimentos com o PSD e o CDS possam conduzir a uma pasokização do partido, ou se acreditam genuinamente que um governo viabilizado pelos comunistas e pela esquerda folclórica pode de facto ter um futuro para além do primeiro orçamento. Talvez seja um pouco das três. Do que não há dúvidas é que António Costa está a jogar tudo pela sua sobrevivência política.
Embora a solução de governo defendida pelo PS tenha toda a legitimidade no quadro da aritmética parlamentar (#thisisnotacoup), apresenta contudo grandes riscos para o partido e para o país. Como bem lembrou Carlos Zorrinho num raro momento de lucidez, as grandes vitórias eleitorais socialistas — com Soares, Guterres e Sócrates — foram alcançadas sempre que o partido se posicionou ao centro. No actual contexto, uma «casa comum da esquerda», para além de abandonar ao PSD e CDS uma parte importante do eleitorado (que não se revê nem no modelo venezuelano nem nas filas dos multibancos gregos), vai colocar o PS na posição de refém do PCP e do BE. Estes, a partir da tomada de posse, terão automaticamente uma pistola apontada à cabeça do governo socialista e uma longa lista de coloridas reivindicações difíceis de cumprir num país sujeito a apertados compromissos internacionais. Não é por acaso que a esquerda radical tem mostrado grande entusiasmo perante esta hipótese de governo.
Que Costa, depois de uma campanha desastrosa e de um resultado eleitoral humilhante, persista nesta estratégia é compreensível. Já pouco tem a perder. Que exista no PS gente com ambições políticas que acredite no sucesso desta solução parece mais difícil de entender. Que ninguém no PS pareça seriamente empenhado em desafiar a liderança e travar este processo, só mostra que o partido bem merece acabar.
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