Acompanho a guerra civil da Síria desde as primeiras manifestações contra Assad e desde cedo começaram a surgir notícias, entre a fragmentação de milícias que combatiam o regime de Damasco, de um grupo de bandeiras negras, combatentes aguerridos e métodos brutais. Na altura, os norte-americanos liderados pelo Prémio Nobel da Paz apoiavam a insurreição com instrução e armamento, enquanto na Europa os políticos e a imprensa queimavam todas pontes com o acossado regime de Assad, na ingénua esperança de uma mudança geopolítica favorável aos interesses ocidentais, ignorando uma longa lista de falhanços semelhantes na qual a Líbia era o exemplo mais recente. Enquanto isso, para quem acompanhava as notícias da Síria com mais atenção, era óbvio que uma grave ameaça estava a germinar no território. Maior que o regime de Assad, que apesar de todos os abusos e restrições à liberdade geria um país em que as instituições funcionavam e que em termos internacionais já não representava qualquer ameaça. O grupo das bandeiras negras, alimentado do ressentimento sunita e do caos no Iraque e na Síria, utilizando armas e equipamento de fabrico americano saqueados dos paióis do exército iraquiano ou pilhados a outras milícias rebeldes, ganhava terreno em todas as frentes, assimilando ou eliminando os grupos concorrentes, até se tornar o grande actor regional que é hoje.
O Estado Islâmico tornou-se o epicentro de todas as discussões. Não alinho em teorias da conspiração, mas a verdade é que a acção do Ocidente, mesmo que involuntária e indirecta, contribuiu de forma decisiva para a sua afirmação.
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