Sem pés nem cabeça


Oliver Stone sempre foi um realizador moralista, no sentido de fazer dos seus filmes autênticas lições para os espectadores. Essa tendência para a pedagogia não o impede de ser um grande realizador, responsável por autênticos clássicos como «JFK» e «Platoon». No entanto, em «Savages», o último filme de Stone, é difícil encontrar alguma ideia, quanto mais lições. Numa aparente mas confusa condenação da War on Drugs, dois traficantes independentes de Laguna Beach — um deles doutorado em Biologia, cheio de boas intenções e muitos projectos para ajudar os pobrezinhos do Terceiro Mundo, e o outro ex-militar das forças especiais endurecido por várias comissões no Afeganistão — partilham uma miúda rica num bizarro triângulo amoroso, e são forçados a fazer frente a um cruel cartel mexicano. O problema é que tudo é feito sem pés na cabeça, numa história que desafia constantemente a lógica e a própria compreensão, com actores em permanente overacting e personagens menos credíveis que vilões de séries televisivas dos anos 80. Tudo embrulhado em filtros à CSI e muita acção literalmente desmiolada. No fim do filme, após um inevitável mas inexplicável happy ending de domingo à tarde, é difícil perceber o que Stone queria fazer com este filme. Ou «Savages» é produto de tarefeiro ou Oliver Stone está definitivamente a perder qualidades.

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