Novembro

Diz-se que a História é escrita pelos vencedores. No caso do 25 de Abril, a narrativa dá pouco espaço a outras interpretações e qualquer discussão resvala invariavelmente para a acusação e o mais básico insulto. É nesse contexto que surge «Novembro», o mais recente livro de Jaime Nogueira Pinto, um romance que tem como pano de fundo o período entre o Verão de 1973 e o 25 de Novembro de 1975. Outro romance sobre o 25 de Abril? Não. Ao contrário de tantos outros livros, «Novembro» foca-se no outro lado da Revolução, constituindo um poderoso retrato de como as direitas viveram o 25 de Abril.

«Novembro» vira o tabuleiro do avesso. Baseado na experiência pessoal de Jaime Nogueira Pinto, o livro acompanha o percurso de diversas personagens à direita do regime através das datas marcantes da Revolução: não só o 25 de Abril mas também as prisões do 28 de Setembro, a intentona/inventona de 11 de Março, o Verão Quente, a independência africana de 11 de Novembro e finalmente o Thermidor de 25 de Novembro. É um livro escrito na perspectiva dos vencidos. Daqueles que sonhavam com um outro Portugal, que procuraram salvar o possível no naufrágio da Descolonização, que foram remetidos ao silêncio e à prisão pela voragem da Revolução. E que depois de tudo foram arrumados nas recônditas gavetas da História. «Os retardadores», como diz Henrique num dos parágrafos-chave desta história, numa expressão que poderia dar o título a este livro. Em paralelo com a acção política, desenvolvem-se três histórias de amor bem distintas, mas que acabam por se entrelaçar bem com o resto da história. Embora seja uma obra de ficção, a narrativa mantém uma forte ligação à realidade. Grande parte dos episódios tiveram realmente lugar, acontecendo o mesmo com a maior parte das personagens, mesmo quando têm outros nomes ou simplesmente não são identificadas.

Trata-se da primeira incursão de Jaime Nogueira Pinto na ficção, mas nem por isso o livro perde brilho. Antes pelo contrário, «Novembro» está muito bem construído e estruturado, com uma escrita fluída e um estilo apaixonado mas sereno. Com diversas camadas de leitura, o livro conta com uma fascinante e complexa galeria de personagens. «Novembro» é uma brilhante história de combate político e de luta pela sobrevivência, de paixões e conspirações, de revoluções sonhadas e impérios desfeitos. Um livro que fazia falta. No meio de tudo, lamenta-se apenas o muro de silêncio com que o lançamento do livro esbarrou, talvez sinal de um país que ainda não superou o fardo de Abril. Ainda assim, não deixa de ser um dos melhores romances publicados em 2012.

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