O exemplo cipriota

"Em cima da mesa está a aplicação de uma taxa de 20% aos depósitos acima de 100 mil euros realizados no maior banco do país: o Banco do Chipre. Aos restantes bancos, também para os depósitos acima de 100 mil euros, aplica-se uma taxa de 4%".

Em 2009, o Bloco de Esquerda fazia do «imposto sobre as grandes fortunas» uma das suas grandes bandeiras de campanha. Aguarda-se a qualquer momento o elogio de Francisco Louçã et al. às medidas acordadas entre a troika e o governo do Chipre.

Por baixo do radar



«Baiya», Delphic.

Há bandas assim. Em 2010, os Delphic lançaram um dos melhores discos do ano, sob o título «Acolyte». Música alternativa, com uma forte componente electrónica e alguns laivos pop. Em certa medida uma reencarnação dos New Order, devidamente estripados da sombra de Ian Curtis e com os dois pés no século XXI. No entanto, o primeiro trabalho dos Delphic nunca chegou a alcançar os tops de vendas. Talvez não tenha tido a bênção dos círculos certos, talvez tenha sido apenas azar. Não se sabe. Apesar disso, os três rapazes, que agora são quatro, não desistiram. No início deste ano, lançaram o seu segundo disco, «Collections», que até ver tem passado tão despercebido (ou mais) do que o antecessor. É pena.

As palavras dos outros (VII)

«Mas Bento XVI, quer como Joseph Ratzinger, quer como Papa, sabia muito bem que para defrontar a competição com a descrença no mundo contemporâneo, era preciso resistir ao "progressismo" que descaracterizava a Igreja, a tornava numa variante profética do marxismo na "teologia da libertação", abrindo-a de forma perversa a um mundo que se tinha feito contra ela e sem ela, e que acabaria por a dissolver no "século" sem diferença. A resistência à "modernidade", e foi o próprio Ratzinger que o lembrou, é mais moderna e interpela mais a descrença, do que a contínua cedência ao "mundo" secular, aos seus hábitos e costumes».

José Pacheco Pereira
in Público, 2 de Março de 2013.

Política D.C.


À medida que as salas de cinema vão sendo ocupadas por remakes, sequelas de sequelas e produções mais ou menos espalhafatosas, a televisão representa cada vez mais um refúgio da originalidade e da criatividade. Talvez porque o formato das séries permita maior desenvolvimento dos argumentos e maior profundidade das personagens, talvez porque Hollywood decidiu apostar apenas em títulos aparentemente consensuais capazes de levar grandes multidões aos cinemas.

É assim que surge «House of Cards», a primeira produção própria do serviço de subscrição por streaming Netflix, com chancela de David Fincher, que também realiza os primeiros dois episódios. Há vários factores que tornam esta série especial. Em primeiro lugar, a Netflix decidiu disponibilizar os 13 episódios da primeira temporada no mesmo dia. Uma decisão inédita numa indústria em que tantas vezes os cursos das séries são determinados pelas reacções do público e por motivos comerciais. Por outro lado, trata-se de uma série televisiva com uma grande dimensão cinematográfica. Para além de Fincher e Joel Schumacher na equipa de realizadores, a série conta com Kevin Spacey no papel principal (também é um dos co-produtores) e argumento desenvolvido Beau Willimon (responsável pelo excelente «The Ides of March»).

É preciso dizer que a série baseia-se numa produção da BBC dos anos 90 com o mesmo título. Neste caso, a história gravita em torno de Francis Underwood (Spacey), um congressista democrata e House Majority Whip que apoia um candidato à Presidência em troca do cargo de Secretário de Estado, mas que vê a promessa traída assim que o candidato é eleito. Underwood decide então lançar uma feroz campanha de retaliação. Corrupção, boatos e abuso de poder, há de tudo neste thriller político de grande densidade, que explora os bastidores mais escuros da política americana. Ao que consta, a série tornou-se rapidamente um fenómeno de culto entre o staff do Capitólio, com muitos elogios à grande semelhança entre a história e a realidade. Apesar de perder um pouco de gás à medida que a temporada avança, «House of Cards» é uma das grandes surpresas do ano e sem dúvida um sério candidato na temporada de prémios que se avizinha.

As palavras dos outros (VI)

«Há razões para protestar e exigir outras políticas. Pagamos muitos impostos e não percebemos o que está a ser feito para que deixe de ser assim. Mas devemos apanhar o primeiro autocarro, sem perguntar para onde vai? Em Setembro, durante a crise da TSU, a revolta pareceu fresca e original. Depois, o bafio da manipulação sectária impregnou tudo. Ouvimos as velhas palavras de ordem do PREC, vimos as agressões e as provocações típicas da “luta”. Há ainda lugar para a inocência? Protestar é uma coisa. Outra coisa é fazer de “idiota útil”».

Rui Ramos
in Expresso, 2 de Março de 2013.

«E eu sou doutro lado»


«Forasteiro», Samuel Úria.