À medida que as salas de cinema vão sendo ocupadas por remakes, sequelas de sequelas e produções mais ou menos espalhafatosas, a televisão representa cada vez mais um refúgio da originalidade e da criatividade. Talvez porque o formato das séries permita maior desenvolvimento dos argumentos e maior profundidade das personagens, talvez porque Hollywood decidiu apostar apenas em títulos aparentemente consensuais capazes de levar grandes multidões aos cinemas.
É assim que surge «House of Cards», a primeira produção própria do serviço de subscrição por streaming Netflix, com chancela de David Fincher, que também realiza os primeiros dois episódios. Há vários factores que tornam esta série especial. Em primeiro lugar, a Netflix decidiu disponibilizar os 13 episódios da primeira temporada no mesmo dia. Uma decisão inédita numa indústria em que tantas vezes os cursos das séries são determinados pelas reacções do público e por motivos comerciais. Por outro lado, trata-se de uma série televisiva com uma grande dimensão cinematográfica. Para além de Fincher e Joel Schumacher na equipa de realizadores, a série conta com Kevin Spacey no papel principal (também é um dos co-produtores) e argumento desenvolvido Beau Willimon (responsável pelo excelente «The Ides of March»).
É preciso dizer que a série baseia-se numa produção da BBC dos anos 90 com o mesmo título. Neste caso, a história gravita em torno de Francis Underwood (Spacey), um congressista democrata e House Majority Whip que apoia um candidato à Presidência em troca do cargo de Secretário de Estado, mas que vê a promessa traída assim que o candidato é eleito. Underwood decide então lançar uma feroz campanha de retaliação. Corrupção, boatos e abuso de poder, há de tudo neste thriller político de grande densidade, que explora os bastidores mais escuros da política americana. Ao que consta, a série tornou-se rapidamente um fenómeno de culto entre o staff do Capitólio, com muitos elogios à grande semelhança entre a história e a realidade. Apesar de perder um pouco de gás à medida que a temporada avança, «House of Cards» é uma das grandes surpresas do ano e sem dúvida um sério candidato na temporada de prémios que se avizinha.
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