Vodafone Mexefest 2013: Segundo Dia
Novo dia, novos concertos. Ao início da noite, na Rua das Portas de Santo Antão, o primeiro público do Mexefest cruzava-se com os esforçados empregados das marisqueiras e os rapazes que serviam chocolate quente por conta da organização (este ano não houve castanhas assadas). À porta da Sociedade de Geografia de Lisboa está Gisela João, essa mesmo, a fumar um cigarro enquanto se prepara para o concerto. Estranhamente, o que salta à vista não é o cigarro mas a estatura da fadista de Barcelos. Como é que alguém daquele tamanho pode ter uma voz capaz de encher uma sala inteira? Essa pergunta acompanha-nos na subida dos degraus até à sala do concerto, sob o olhar de Vasco da Gama por Veloso Salgado.
Lá em cima, na magnífica sala Portugal, que há três edições acolhe concertos do Mexefest, Gisela João deu a resposta. Esta não é uma fadista qualquer. Gisela João destaca-se claramente da nova geração do fado, seja pela versatilidade da sua voz, que lhe permite alternar entre diversos registos do fado, pela intensidade arrepiante que consegue imprimir às canções ou até pela atitude desafiadora e por vezes até exagerada que exibe em palco. O concerto abriu com «Madrugada Sem Sono», um poema extraordinário de Goulart Nogueira, e seguiu com o alinhamento do disco homónimo (sem dúvida um dos melhores do ano), alternando com outros temas célebres da música popular portuguesa. É difícil ficar indiferente a esta pequena fadista, e talvez por isso a sala tenha esgotado rapidamente. Se à partida ter Gisela João num festival como o Mexefest podia parecer arriscado, cá fora uma fila com dezenas de metros confirmava a aposta ganha.
Entretanto era hora de rumar ao Coliseu, onde os Daughter se preparavam para fazer a sua estreia em Portugal. A banda de Londres era um dos principais pontos de interesse desta edição do Mexefest. Com o primeiro disco, If You Leave, editado este ano, os Daughter estão em plena trajectória ascendente e arriscam-se a ser um caso sério de sucesso, com o seu rock melodioso e melancólico. Responsabilidade de Elena Tonra, a tímida vocalista/baixista que dá a alma a este grupo. Soam como uma versão acústica dos The XX dos primórdios, com temas que transpiram delicadeza e sentimento. O Coliseu encheu para receber o trio britânico (com mais um elemento nas teclas), proporcionando uma recepção sentida e calorosa, se bem que por vezes demasiado excessiva (dispensavam-se as palmas em temas que vivem principalmente dos silêncios invocados). A banda pareceu genuinamente surpreendida pelo acolhimento proporcionado e até Tonra pareceu envergonhada perante os aplausos. É verdade que o concerto passou demasiado rápido, mas houve tempo para apresentar temas do disco e resgatar músicas do primeiro EP, His Young Heart, lançado em 2011. O momento alto do concerto ocorreu invariavelmente em «Youth», onde nem o engano da vocalista arrefeceu os ânimos da plateia. No final, ficou a promessa de um regresso no próximo ano.
Hora de voltar à rua, para o frio da Avenida da Liberdade. Passos para a frente e para trás, que acabam por encaminhar na direcção da Estação do Rossio, onde daí a poucos minutos actua a Oh Land. Mais um regresso, neste caso de uma artista que participou no Mexefest em 2011. Oh Land é o nome de palco de Nanna Øland Fabricius, uma dinamarquesa multifacetada, antiga aspirante a dançarina que devido a uma lesão grave enveredou pela criação musical. Nesta edição aproveitou para apresentar o terceiro disco, Wishbone, editado no último mês de Setembro. Com o castelo de São Jorge como pano de fundo, Oh Land mostrou que mais do que uma cantora é uma artista completa: tocou piano, cantou, dançou e não se cansou de interagir com o público. E embora o seu trabalho não apresente um fio condutor evidente, parecendo às vezes próxima da pop colorida de Katy Perry e outras de uma Lana del Rey ligada à corrente, Oh Land conseguiu compensar a indefinição estilística com uma energia inesgotável e um inegável talento. É verdade que o concerto começou morno, mas na ponta final conseguiu incendiar a plateia de tal forma que o público reclamou avidamente por um encore que não tardou a chegar.
Fim do concerto, hora de voltar ao Coliseu, onde já tinha começado o Discotexas Picnic, uma forma inteligente de encerrar o Mexefest. Com elementos da família Discotexas como Da Chick, Mirror People, Moullinex e Xinobi, as despedidas não podiam ficar mais bem entregues. Destaque para Moullinex, que montou um live act de três elementos (baixo, guitarra e bateria), que se ia revezando entre si e que serviu como eficiente acompanhamento aos seus temas essencialmente electrónicos, proporcionando uma sonoridade mais orgânica e próxima do público. Encerrou-se assim mais uma edição do Vodafone Mexefest, com estreias, descobertas e confirmações para todos os gostos.
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