Vodafone Mexefest 2013: Primeiro Dia


Como se explica que um festival de música tenha um cartaz cada vez menos apelativo mas atraia cada vez mais público? É o caso do Vodafone Mexefest, que parece ter criado uma identidade suficientemente forte para encher sucessivas edições dispondo de cada vez menos argumentos. E o mal não é apenas do cartaz. O abandono de palcos como o Tivoli, o Maxime e a estação de metro dos Restauradores tem levado a um maior confinamento do festival na Rua das Portas de Santo Antão, atenuando a agitação que nestes dias tradicionalmente coloria a Avenida da Liberdade. Apesar de tudo, o conceito do Mexefest continua a fazer deste festival um dos acontecimentos musicais mais interessantes do ano.

A primeira noite começou com os JUBA, no São Jorge, que desta vez garantiram presença por direito próprio após no ano passado terem vencido um concurso de bandas que lhes permitiu apresentar o seu trabalho na abertura do festival. Apesar da juventude dos elementos, todos na casa dos 20 anos, os JUBA mostram já consistência e maturidade. Com uma sonoridade nervosa a apontar para o psicadelismo e alguns laivos tropicais, aproveitaram o concerto do Mexefest para apresentar o primeiro disco, Mynah. Uma banda a acompanhar.

Seguiu-se o concerto de Márcia, na sala maior do São Jorge. Este pode ser considerado um regresso ao Mexefest, já que a Márcia tinha actuado em 2010, quando era ainda pouco conhecida e o festival se chamava Super Bock Em Stock. Muito mudou entretanto. Se há três anos a cantautora portuguesa tinha actuado na estação de metro do Marquês de Pombal perante uma plateia reduzida, desta vez era considerada uma das principais estrelas do festival. Não só tinha ao seu dispor um dos maiores palcos do Mexefest como contava com Samuel Úria e António Zambujo como artistas convidados. O público compareceu e Márcia, em traje de gala, brindou os presentes com um magnífico concerto, ao qual nem alguns esporádicos enganos retiraram brilho. Úria, que apadrinhou a estreia de Márcia, esteve bem nos duetos de «Menina» e de «Eu Seguro», mas o momento mais arrepiante do concerto aconteceu em «A Pele Que Há Em Mim», com Zambujo a fezer esquecer JP Simões dando um novo tom à canção. Com um alinhamento irrepreensível, Márcia fez desfilar todos os seus melhores temas e o concerto terminou com o magnífico instrumental de «Decanto».

Tempo de correr pela Avenida e de passar pelo Ateneu Comercial de Lisboa, de longe a pior sala do Mexefest. Não só pela acústica deficiente como pelas condições de acesso absolutamente inadmissíveis. Enquanto os Wavves se preparavam para começar, a entrada estava entupida de gente que procurava desesperadamente entrar ou sair. A desgraça iminente foi argumento suficiente para rumar ao Coliseu, onde começava a contagem decrescente para o concerto mais aguardado da noite.

O Tivoli tinha a sua mística mas infelizmente não dispunha de capacidade para acolher as enchentes provocadas pelos cabeças de cartaz do Mexefest. No ano passado, centenas de pessoas ficaram à porta nos concertos de Alt-J e Django Django (não aconteceu o mesmo com James Blake em 2011 porque do outro lado da Avenida havia Toro Y Moi ao mesmo tempo). Nessa perspectiva, compreende-se a opção do Coliseu. E de facto, a sala encheu para receber Woodkid pela primeira vez em Portugal. O artista francês não deixou créditos por mãos alheiras e preparou um espectáculo poderoso e arrebatador. Recorde-se que Woodkid, ou melhor Yoann Lemoine, já tinha uma sólida carreira como realizador antes da sua incursão pela criação musical. Dessa forma, a actuação de Woodkid não foi apenas um concerto, foi um verdadeiro espectáculo, com a articulação da iluminação e dos cenários a criarem uma atmosfera que não só eleva ao cubo o impacto sonoro como ilude a monotonia de grande parte dos temas. Auxiliado por uma extensa entourage, que incluía secção de metais e dois percussionistas em pose militar, Woodkid apresentou a sua música de tons épicos e marciais, que flutuando entre a pop, o neofolk e o puro industrial se torna praticamente incatalogável. Se a banda trocasse o streetwear por outras vestes, de certo que Woodkid não se livraria de certas comparações perigosas. Ao longo do concerto o público respondeu à altura aos desafios do artista, que com a sua voz aveludada ia alternando as canções muitas palavras dirigidas à plateia. No final, o próprio Woodkid se confessava surpreendido pela recepção, presentando a audiência com um intenso encore e a promessa de voltar em breve.

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