O Fado do Estado

Engana-se quem pensa que é possível transformar Portugal num país neo-liberal, seja lá o que isso for. Não há liberalismo em Portugal porque não há país fora do Estado. Desde as farmácias que (sobre)vivem às custas das margens de comercialização dos medicamentos definidas pelo Governo aos escritórios de advogados que se sustentam com assessorias e outros serviços, passando pelas grandes empresas de construção que faziam a sua vidinha em obras públicas, tudo em Portugal passa pelo Estado. Não é novidade. Durante o Estado Novo, com a iniciativa privada agrilhoada pela lei do condicionamento industrial, o sector privado estava nas mãos de meia dúzia de famílias que coexistiam com o Governo pela manutenção do statu quo. O que o 25 de Abril fez foi baralhar e voltar a dar. Já Eça falava de um país inteiro que se sustentava com o caldo da portaria do Estado. Não há volta a dar. Somos um país pequeno, com fronteiras definidas desde 1297 e onde o feudalismo foi incipiente. O Estado cristalizou-se com D. Afonso III e desde aí é o sustento do país. Este é o nosso fado.

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