Dia de vitória
Quem ontem atravessasse Lisboa de carro, dificilmente acharia que não se tratava de um dia normal. Comércio a funcionar e um pouco mais de trânsito do que o costume, mas tudo normal. O país esteve muito longe de parar. É o sinal mais evidente de que a Greve Geral — definida como paralisação concertada de actividades a nível nacional — falhou redondamente. Enquanto isso, às portas de São Bento, Arménio Carlos arengava sobre a grande vitória dos trabalhadores numa das «maiores greves gerais realizadas em Portugal». O costume. Seguiu-se o Carnaval habitual, com algumas dezenas de encapuçados a desafiar a polícia. Ao longo das últimas manifestações têm esticado a corda, com os desafios a subirem de tom. Desta vez tiveram finalmente o que queriam. Aos insultos e provocações, aos petardos, garrafas e pedras atirados, a polícia respondeu com a tão ansiada carga. Jornalistas em delírio, perseguição até ao Cais do Sodré, ensaios de barricadas, ecopontos a arder. Nas atitudes também se nota alguma evolução. Parece que os anarquistas deixaram finalmente de choramingar quando são agredidos pela polícia. Quase parece que estamos na Europa. Ao fim do dia, todos ganharam: CGTP, manifestantes, jornalistas. Até a polícia. Quanto ao país, não se sabe. Mas isso também não interessa nada.
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