Lisboa

"O hotel, que humildemente preferia autodenominar-se pensão, era um antigo convento, um daqueles locais que os ingleses adoram. Para lá chegar, Merridew teve de escalar uma escadaria de pedra tapada por videiras e, tendo-a escalado e dado uma primeira olhadela curiosa, apressou-se a descê-la para ir dizer a Brock que corresse — «mas corre mesmo!» — ao café da esquina e ligasse para Ned. Depois, escalou de novo a escadaria, razão por que se sentia tão ofegante e ainda mais maltratado que o costume. Cheiros de terra molhada e café acabado de moer misturavam-se com as fragrâncias nocturnas das plantas. Merridew não as sentia. Faltava-lhe o ar. O soluçar dos eléctricos distantes e o grasnar dos barcos eram os únicos sons de fundo para o monólogo de Barley. Merridew não se apercebia desses sons".

John le Carré
in "A Casa da Rússia".

Indignocracia

Se há coisa que o caso Pêpa e o caso Zico nos ensinam é que o bom senso está hoje em vias de extinção.

A indignação está na moda (II)

Se as associações académicas e de estudantes fossem mais do que simples trampolins para malta das jotas, poderiam fazer algo mais do que protestar contra os cortes na Acção Social e o eventual aumento das propinas. É certo que a indignação é mais simples e garante maior retorno mediático, mas situações de emergência exigem soluções de emergência. Nos anos 50, por exemplo, a Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico (AEIST) geria uma Caixa de Empréstimos de Honra e Subsídios, que «constituía um importante mecanismo de apoio social aos associados mais carenciados, mediante a concessão de empréstimos» isentos de juros. Embora a única garantia fosse a assinatura de um compromisso de honra, de forma geral os beneficiários cumpriam. Até porque, segundo um antigo dirigente, «as pessoas sabiam que se não cumprissem, prejudicavam outros». No ano lectivo de 1953/54, os beneficiários ultrapassavam 10% do total de alunos inscritos no IST. Actualmente existem bolsas de Acção Social, embora não abranjam todos os estudantes em dificuldades. Quantos poderiam encontrar solução num mecanismo deste tipo?

As palavras dos outros (V)

"Em 2016, eis um cenário muito possível: Angola manterá a ortografia existente anterior ao “Acordo”. Portugal seguirá, se não conseguir inverter o statu quo, o pobre “acordês”. E o Brasil terá entretanto revisto e certamente “melhorado” o “Acordo”, escrevendo numa terceira ortografia. Resumindo: cada qual escreverá de sua maneira".

Helena Buescu
in Público, 8 de Janeiro de 2013.

Olá 2013



«Inhaler», Foals.